Sete perguntas para o Professor Mário Beni

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Em tempos de mudanças políticas e econômicas, são jogados os dados da sorte para todos os setores da vida da nacionalidade. O governo entrante, por interino que seja, aproveitou o momento em que tinha alguma credibilidade e prometeu fazer reformas profundas, desvinculadas das necessidades de voto que, em tempos de normalidade, não são feitas sem a perda de muito voto e apoio – ou seja, não seriam feitas – e a redução do número de ministérios, que sempre esteve na pauta dos governos de oposição e de algumas vertentes do próprio governo, entrou na pauta e recebeu apoios populares e dentro dos outros poderes nacionais. Os movimentos percebidos em favor da extinção sempre tinham uma tática definida e clara: os de um setor sempre querendo extinguir o ministério do outro setor, com o objeto claro de abocanhar o naco do orçamento destinado para aquela pasta em vias de extinção. Isso é do “jogo dos tronos”.

O que não é do jogo é a autofagia. O Turismo foi o único ministério que teve apoio para sua extinção através de uma de suas entidades representativas (ou pseudo-representativa). Ganhou o bom senso e o setor que tem muitas condições para ser o mais vistoso dentre as novas formas de se movimentar a economia do país, o Turismo sobreviveu, mesmo que com profundos arranhões.

Nos últimos dias, quando o ministério do turismo correu o risco de desaparecer, com um tiroteio verbal de lado a lado, contra e favor, um nome saia sempre enaltecido e prestigiado: Mario Carlos Beni

O Professor Beni, como é referenciado e reverenciado, é um marco de conhecimento dedicação e ilustração para o setor. Ele é o maior expoente do turismo brasileiro e sua trajetória o qualifica para qualquer cargo, função ou homenagem que se queira prestar. Referência intelectual no meio acadêmico, respeitado no meio político e bem sucedido como conselheiro em tantas instâncias, seu nome foi insistentemente colocado pro muitas lideranças para ocupar o cargo que, em treze anos, nunca teve à sua frente pessoa do setor. Os governos se sucederam a e prática de lotear o ministério para partidos da “base aliada” tornou-se uma prática normal e corriqueira, aceita bovinamente pelos protagonistas do setor. Até que surgiu o nome de Mario Beni para a pasta e o setor “pegou fogo”.

Ao encerrar esta matéria, o ministério do turismo continua nas mãos de um interino e aparentemente o governo se finge de morto antes de colocar “um novo jabuti na árvore do turismo”. Não será surpresa se um deputado neófito no setor sentara na cadeira de ministro do turismo, mas, alguns protagonistas ainda esperam que o governo esteja propenso a mudanças e aceite indicações e use isso como uma referência ao setor.

Nos últimos tempos, Mario Beni saiu de dentro dos livros e tem espargido luz para mundo do turismo com verdadeiras aulas pelo facebook. Quem colecionar todos os pequenos textos do professor nos últimos tempos, terá um MBA na tela, impossível de ser buscado em qualquer escola do mundo. Foi por isso que o Frontdesk fez sete perguntas para o Professor e brinda os seus leitores com as respostas que podem ser lidas adiante.

Sete perguntas para o Professor Mario Beni

1 – PIBTur?
(Dizem que turismo representa mais de 8% do PIB brasileiro. Isso é para acreditar?)

PIBTur de 8% no Brasil é um verdadeiro delírio! Mesmo que considerássemos na pesquisa anual, todos os serviços sem excluir àqueles que não estão diretamente vinculados ao sistema de turismo. O Estudo da FIPE/USP de 2001/2002 apresentou-nos um PIB de 2,5 a 3.0. Hoje passados 15 anos o numero não é muito diferente, cresceu apenas 0,5 a 0,8 e está entre 3.5 a 3.8. Este seria o número real.

Turismo atende o consumidor na etapa final da rede de produção. O setor, enquanto produtor de serviços, não é muito expressivo como multiplicador de renda. É verdade, também sua destacada importância na geração de emprego, abrangendo todas as faixas desde a mão de obra não especializada até a mão de obra qualificada. No cenário macro econômico traduz-se como importante setor de desenvolvimento sustentável das regiões vocacionadas para o turismo.

2 – Ministur?
(Existe uma fórmula, uma estratégia ou alguma ação coordenada para o trade, algum dia, indicar um ministro de turismo que emplaque?)

Creio que quando o país atingir uma maior consciência da importância do setor e conquistar a maturidade política, o turismo poderá ser entendido e valorizado como um fator destacadamente impulsionador de sua economia . Recentemente o Presidente interino incluiu o Ministério de Turismo no Grupo Econômico, creio já ter sido um avanço, estarmos alinhados hoje aos ministérios de articulação estratégica do desenvolvimento econômico.

3 – Legislatur?
(Existem deputados que pensam turismo ou apenas ocupam as cadeiras em comissões por falta do que fazer?)

Houve destacados progressos no Congresso Nacional no que concerne ao Turismo, hoje temos uma frente Parlamentar de Turismo integrada por deputados e Senadores e respectivas Comissões de Turismo no Senado e Na Câmara Federal. O atual Presidente da Frente Parlamentar Mista do Turismo, Deputado Herculano Passos, tem sido muito atuante e foi um dos primeiros a recomendar e subscrever a indicação de um técnico de reconhecida especialização para o MTur.

4 – Embratur?
(Batendo cabeça. Ela deve continuar existindo? Se deve, como fazer para ela parar de bater de frente com o ministério?)

Defendo a transformação da EMBRATUR em Agência Nacional de Desenvolvimento, com o objetivo de melhorar a capacidade de gestão estratégica do turismo e implementar e executar de fato e de direito o Programa de Regionalização em Parceria Público Privada.

5 – Regionalização?
(A regionalização falhou nas mãos do Ministério do Turismo. Ela tem jeito?)

Na verdade o MTur. em tempo algum implementou o Plano Nacional de Regionalização do Turismo, apenas e tão somente, utilizando-se de uma lógica de mercado apropriou-se de roteiros já consagrados nos roteiros comercializados pelas operadoras, abandonando   um dos princípios que inspirou esse Plano ou seja o desenvolvimento endógeno de desenvolvimento de base local na formatação  do processo de regionalização.

6 – Pólos?
(É hora de voltar para os pólos turísticos?)

Pelo mesmo critério que procederam a “roteirização” em nome da “regionalização” talvez o façam adotando-se “polos” dessa categorização equivocada e distorcida. Preferiria, retomar o Plano de Regionalização a partir do modelo endógeno de base local e a partir daí construir os pólos e os clusters de turismo.

7 – O que vem por aí?
(o Turismo tem futuro ou saída (e verbas) em um Brasil que não consegue de desvencilhar de mazelas básicas, como segurança, acessos e qualificação?)Essa questão é de extrema dificuldade de se fazer alguma previsão, mantendo-se o status quo, e considerando os Jogos Olímpicos, teremos um crescimento discreto no receptivo internacional com predominância de ingressos dos países periféricos da America do Sul e chegadas mais discretas da Europa e da America do Norte, e demais continentes. O turismo doméstico que havia atingido números fantásticos em anos anteriores, nos próximos anos, em razão da recessão e do novo desenho da pirâmide social, pode não crescer com o mesmo vigor, mas, crescerá. O MTur, continuará com parcos recursos para implementação de seus programas. Porém, a perspectiva da reabertura do jogo e dos cassinos se aprovada pelo Congresso poderá beneficiar destacadamente o Turismo.

Quem é Mario Beni
Doutor em Ciências da Comunicação e Livre Docente em Turismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Mestre em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política da Universidade de São Paulo (USP); Professor titular aposentado da ECA/USP; professor do curso de Pós Graduação da UnB – Universidade de Brasília; Professor convidado de diversos programas de pós graduação stricto sensu em Turismo e Hospitalidade no país e no exterior. É colaborador de importantes periódicos científicos de Turismo. Foi editor associado de Annals of Tourism Research.

Pertence ao Conselho Superior da Internacional Association of Cientific Experts in Tourism e da International Academy of Tourism. Foi membro do Comitê de Ética da Organização Mundial do Turismo, representando as Américas. É membro da Associação Mundial de Formação em Hotelaria e Turismo, pela qual foi agraciado com o Prêmio Tourism Award 2003. Autor de livros na área de Turismo e da Academia Internacional de Turismo. Membro do Conselho nacional de Turismo do Ministério do Turismo e pertencente à academia Brasileira de Eventos e Turismo. Reitor da Universidade Corporativa e presidente do Conselho Nacional da Confederação Nacional de Turismo.

Fonte: José de Oliveira Justo Editor do boletim multimídia FRONTDESK, e representante da CNTur.

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