Novas regras para as relações trabalhistas já estão em vigor

As relações entre empregados e donos de hotéis, restaurantes, bares e demais estabelecimentos do setor de turismo do Brasil foram modificadas desde o dia 11 de novembro, data em que entrou em vigor as alterações nos artigos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que modernizaram a legislação trabalhista – um movimento que já teve início em diversos países, e que, no Brasil, considerando a crise econômica e o alto contingente de desempregados, chega em boa hora. As mudanças incluem jornada de trabalho, rescisão contratual e banco de horas, entre outras.

Uma das principais mudanças amplia as modalidades de contratação, formalizando o trabalho intermitente, o remoto, por tempo parcial e autônomo. Os novos modelos beneficiam empregadores e empregados, pois poderão se ajustar à sazonalidade dos setores de hospedagem e gastronomia, ou seja, à oferta e demanda dos estabelecimentos. No caso do trabalho intermitente, por exemplo, que é uma realidade em todo o mundo, a empresa poderá realizar contratações por hora, em escala móvel, o que tem reflexos inclusive sobre a produtividade dos empregados, com ganhos visíveis sobre os clientes. Para os empregadores, a possibilidade de admitir pessoal com cargas horárias diferenciadas reduzirá o custo do negócio, pois os pagamentos de férias, FGTS, contribuição previdenciária e 13o salário será proporcional. Mas as convenções coletivas irão se sobrepor às leis, o que aumenta a importância e a responsabilidade tanto dos sindicatos patronais quanto dos laborais – mas, paradoxalmente, a obrigatoriedade do pagamento da contribuição sindical, recurso que sustenta os sindicatos, foi extinta, prejudicando as entidades responsáveis pelas negociações entre empresas e empregados.

“As novas regras criarão um ambiente mais justo para o empreendedorismo de forma geral, mas, principalmente, para o setor de hospedagem e gastronomia, e terão impactos diretos e imediatos sobre a produtividade do mercado e a competitividade do Brasil como destino turístico”, afirma o presidente da Confederação Nacional do Turismo (CNTur), Nelson de Abreu Pinto. O empresário afirma ainda que a medida deve aumentar a geração de postos de trabalho, ajudando o Brasil a fortalecer a sua economia.

Acompanhe as principais mudanças para as empresas do setor de turismo.

1. Representação sindical

Sindicatos continuarão atuando em acordos e convenções coletivas, mas não mais dentro das empresas

2. Contribuição sindical

De obrigatório, o pagamento anual de uma alíquota sobre o capital social das empresas passa a ser optativo.

3. Livre negociação

O negociado prevalecerá sobre o legislado em questões como parcelamento das férias; jornada de trabalho com limitação de 12 horas diárias e 220 horas mensais; participação nos lucros e resultados; jornada em deslocamento; intervalo entre jornadas (limite mínimo de 30 minutos); extensão de acordo coletivo após a expiração; entrada no Programa de Seguro-Emprego; plano de cargos e salários; banco de horas, garantido o acréscimo de 50% na hora extra; remuneração por produtividade; trabalho remoto; registro de ponto.

FGTS, salário mínimo, 13º salário, seguro-desemprego, salário-família, licença-maternidade, aviso prévio proporcional ao tempo de serviço e férias proporcionais permanecem inalterados, bem como as normas de segurança e saúde do trabalhador e remuneração de hora extra.

4. Terceirização

Empregados terceirizados terão as mesmas condições de trabalho daqueles contratados diretamente em pontos como atendimento em ambulatório, alimentação, segurança, transporte, capacitação e qualidade de equipamentos.

5. Trabalho intermitente

A contratação por períodos trabalhados passa a ser uma possibilidade e tem implicações no pagamento de férias, FGTS, previdência e 13osalário, que passa a ser proporcional.

6. Regime parcial

O trabalho em regime parcial passa a ser de até 30 horas semanais, sem a possibilidade de horas extras, ou de 26 horas por semana com até 6 horas extras. As horas a mais serão pagas com o acréscimo de 50% sobre o salário-hora normal.

7. Home office

O trabalho realizado nas casas dos empregados fica regulamentado, prevendo que escala, uso de equipamentos e o pagamento com gastos com energia e internet serão acordados entre empresas e empregados.

8. Recontratação

Para readmitir um empregado como terceirizado, a empresa deverá esperar no mínimo 18 meses.

9. Informalidade

Sobe de um salário mínimo para R$ 3 mil a multa pela manutenção de empregado não registrado (valor calculado por profissional irregular). Para microempresas e empresas de pequeno porte, este valor será de R$ 800,00.

10. Jornada de 12 x 36 horas

A jornada de trabalho de 12 horas com 36 horas de descanso fica regulamentada.

11. Trabalho no feriado

Os acordos coletivos poderão determinar a troca do dia de feriado

12. Banco de horas

O banco de horas pode ser pactuado por acordo individual escrito, mas a compensação tem que ser feita no mesmo mês, e não mais no período de um ano.

13. Tempo de deslocamento

O tempo de deslocamento até o trabalho e no retorno não será computado na jornada de trabalho.

14. Férias

Poderão ser parceladas em até três períodos, se houver acordo individual entre empregador e empregado, desde que o primeiro deles não seja inferior a 14 dias e os demais, a 5 dias.

15. Rescisão contratual

A homologação da rescisão contratual será feita em local definido pela empresa, com a presença dos advogados do empregador e do funcionário, e comunicada à Superintendência Regional do Trabalho.

Surge a chamada “rescisão por culpa recíproca”, para os casos de acordo amigável para a saída sem justa causa. Neste caso, a empresa deverá pagar metade do aviso prévio e metade da multa sobre o FGTS; já o empregado só poderá sacar 80% do FGTS e não terá acesso ao seguro-desemprego.

O pagamento da rescisão será feito em até 10 dias corridos a partir do término do contrato, independentemente do tipo de rescisão.

16. Acordos individuais

Fica permitido às partes fazer acordos individuais sobre parcelamento de férias, banco de horas, jornada de trabalho e jornada em escala (12×36).

17. Ações trabalhistas

O trabalhador será obrigado a comparecer às audiências na Justiça do Trabalho e arcar com as custas do processo, caso perca a ação. Quem agir com má-fé ficará sujeito a punições, como multa de 1% a 10% da causa e indenização para a parte contrária.

18. Custas processuais

As custas relativas aos processos terão valor máximo de quatro vezes o teto dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social (atualmente, R$ 22,1 mil)

19. Sucessão empresarial

As obrigações trabalhistas serão automaticamente transferidas para a companhia que adquirir outra empresa.

De olho no futuro: congresso debate sustentabilidade, modernização e ampliação do turismo como atividade produtiva

“O futuro do turismo exige inovação e modernização”. O pensamento resume a tônica do Congresso Internacional de Gastronomia, Hospitalidade e Turismo (Cihat), realizado nos dias 6 e 7 de novembro, em São Paulo, que reuniu a nata do empresariado de turismo brasileiro.

Na abertura, o presidente da Confederação Nacional do Turismo (CNTur), Nelson de Abreu Pinto, fez menção às trinta edições do Congresso: “Conseguimos reunir, ao longo destas três décadas, tanto o trade turístico do País quanto grandes nomes que exercem papéis de liderança junto aos empresários do setor em debates absolutamente relevantes para o desenvolvimento do Turismo”, disse.

Participaram da cerimônia o prefeito de São Paulo, João Dória; o secretário estadual de Turismo, Fabrício Cobra, representando o governador, Geraldo Alckmin; a secretária nacional de Qualificação e Promoção do Turismo, do Ministério do Turismo, Teté Bezerra, que representou o ministro Marx Beltrão; o superintendente Regional do Trabalho e Emprego no Estado de São Paulo, Eduardo Anastasi, que representou o ministro Ronaldo Nogueira; o secretário de Segurança do município, José Roberto de Oliveira; o ministro da Casa Civil Henrique Hargreaves; o presidente da SPTuris, David Barioni, e o diretor Eduardo Colturato; o presidente do Forum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Manoel Gama; os presidentes das federações de hotéis, restaurantes, bares e similares de Santa Catarina, Estanislau Bresolin, e da Bahia, Silvio Pessoa, da Federação Nacional de Turismo, Michel Tuma Ness; o presidente do Sinthoresp, sindicato dos trabalhadores, Fernando Calasans, e Canindé Pegado, da União Geral dos Trabalhadores (UGT); o vereador Rodrigo Goulart; e o presidente do Sindicato de Hotéis do Rio de Janeiro, Alfredo Lopes, além dos empresários Flavio Rocha e Paulo Camargo.

Em discurso, o prefeito de São Paulo, João Dória – que participou da primeira edição do Cihat, há trinta anos, quando era presidente da Embratur – ressaltou a importância do Turismo para a economia do País e falou sobre o projeto de segurança pública que irá monitorar áreas turísticas da cidade, sobretudo as de concentração de bares e restaurantes. A iniciativa, que contará com um total de 10 mil câmeras, se somará a outras ações de vigilância, como a polícia de drones, e de inteligência. O Sindicato de Restaurantes e Bares e Similares de São Paulo (SindResBar) é parceiro da ação: o presidente da entidade, Wilson Luiz Pinto, assinou, durante a abertura do evento, um protocolo de intenções com a Secretaria Municipal de Segurança Urbana.

Em sua 30ª edição, o Cihat contou com a participação de dois grandes empresários do setor do varejo: Flavio Rocha, acionista do grupo Guararapes, holding da Riachuelo, e Paulo Camargo, CEO do Grupo Arcos Dorados, controladora do Mc Donald’s no Brasil, que, em palestras, cederam detalhes de suas visões empresariais e de cases de sucesso adotados na transformação de seus negócios para as demandas do século XXI.

Flávio Rocha defendeu a reforma trabalhista, que entrará em vigor no dia 11 de novembro. “A nossa legislação trabalhista, antiga e antiquada, tem um DNA integralmente industrial, ligado às demandas da época. O turismo, assim como o varejo, tem demandas específicas, que exigem flexibilidade, pois trabalha de acordo com as demandas dos consumidores”, disse. Rocha defendeu que o País se adapte ao novo contexto da sociedade e se modernize, adotando práticas de livre negociação que, em outros países, já comprovaram seus benefícios para a economia. E que se torne mais competitivo. “Países prósperos são aqueles que combinaram livre mercado e democracia”, disse.

O debate sobre a reforma trabalhista desdobrou-se também em um fórum técnico, que contou com a participação de Rafael Pugliese, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 2a Região, que fez uma exposição sobre seu ponto de vista acerca das modificações que entrarão em vigor no próximo dia 11 de novembro.

Paulo Camargo, CEO do grupo que controla o McDonald’s no Brasil, também falou sobre o novo contexto da economia e da sociedade, que exige mudanças, e fez uma exposição sobre as medidas tomadas pela rede de fast food para se adaptar ao contexto atual e, visando a sustentabilidade da companhia, se modernizar.

As várias vertentes da sustentabilidade no Turismo foram abordadas em diferentes painéis, durante o Congresso. Especialistas mostraram que é possível explorar a atividade turística para além de trilhas e caminhadas, sem riscos de destruição do meio ambiente. A ideia foi mostrar que há espaço para ampliar as possibilidades de turismo possíveis no Brasil, utilizando da diversidade de cultura, clima e gastronomia, e que isto pode ser um grande impulsionador da economia, pois as pesquisas comprovam que cada real investido no turismo movimenta mais empregos do que a construção civil.