Susan Renée Klein
Um estudo da OMS realizado em 1983 definiu a “Síndrome dos Edifícios Doentes – SED” como os edifícios-objeto de queixas de pessoas que relatavam situações de desconforto e sintomas de doenças por trabalharem em grandes edifícios da América do Norte e Europa Ocidental desde os anos 70. Este estudo, tornou-se um problema de saúde pública a ser estudado de “forma global e sistemática” (LEMOS, 1997). De acordo com Krippahl (2006), o “Edifício Doente” está associado ao aumento de absentismo e rotação do pessoal, redução da eficiência do trabalho humano, pausas prolongadas e frequentes, menor produtividade no trabalho, insatisfação de clientes e colaboradores.
Diante do horizonte de retomada da atividade turística é importante que o setor de hospitalidade preparados para receber os hóspedes da maneira mais segura possível. Assim, cabines de navios de passageiros, cabines dos tripulantes, espaços comuns de convivência esterilizados poderão atrair usuários, se tiverem a garantia de que os ambientes estarão saudáveis.
Os ambientes doentes (navios, edifícios comerciais, hotéis, edifícios antigos residenciais) como ambientes com prevalência de sintomas em seus ocupantes que incluem: dor de cabeça, problemas nos olhos (irritação, dor, secura, coceira, lacrimejamento), problemas nasais (constipação, coriza ou irritação), problemas de garganta (secura, dor ou irritação), problemas no tórax (sensação de opressão ou dificuldade respiratória), fadiga e letargia (sonolência e debilidade), anormalidades na pele (secura, coceira, irritação), e problemas para manter a concentração no trabalho (STERLING, 1983).
O ar dos ambientes confinados oferece condições adequadas de temperatura e umidade para o desenvolvimento de agentes infecciosos e alergênicos. A umidade relativa do ar e algumas temperaturas elevadas são satisfatórias ao crescimento desses microrganismos. De acordo com Pelczar et al. (1996), a transmissão de microrganismos patogênicos – bactérias, vírus ou fungos, pelo ar, para indivíduos inicialmente saudáveis, pode acarretar em infecções sérias e muitas vezes letais, como muito se tem observado pelo alto grau de contaminação da COVID-19. A transmissão e contaminação podem ocorrer por inalação, gotículas de água em suspensão ou partículas de poeira, provenientes de roupa de cama ou solo contaminado, que são imperceptíveis aos nossos olhos.
A propagação por gotículas ou aerossóis, contendo numerosas gotículas e inúmeros microrganismos, pode ocorrer por fonte humana (tosses e espirros), ou por fontes ambientais – aerossóis produzidos por água contaminada de equipamento de ar-condicionado ou mesmo bolhas de ar originadas de águas doces e salobras (embarcações), que eclodem na superfície. A propagação por poeira infecciosa pode ser por fontes humanas, decorrente da secagem dos resíduos de tosse e espirros sobre superfícies secas – roupa de cama ou assoalho, ou por fonte ambiental – poeira originada de solo contaminado.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1980 – NBR 7256), recomenda a esterilização de ambientes para controle da tuberculose nosocomial por irradiação ultravioleta. Os processos de desinfecção por este mecanismo germicida, são eficientes pois a radiação altera o DNA das células incapacitando a sua reprodução e consequente proliferação dos microrganismos.
Com a preocupação atual sobre o bioterrorismo em ambientes de concentrações humanas, em especial os espaços de turismo como, navios de cruzeiro, aviões ou aeroportos, os processos de desinfecção microbiana necessariamente precisaram mudar de modo a proteger os ocupantes destes locais públicos. A radiação UVC, como um dos mecanismos acessíveis, viáveis e sustentáveis tornou-se uma das melhores opções para resultados eficientes e rápidos, sem geração de resíduos ou depósito de substâncias causadoras de outras formas de irritação.
O processo de radiação por UVC é um método efetivo e rápido para a desinfecção adequada de microrganismos – fungos, algas, vírus e bactérias, presentes no ar de ambientes confinados, sendo que o tempo de exposição da fonte a um metro de distância de paredes ou anteparos deve ser de pelo menos 1 minuto, com uma ou duas lâmpadas UV-C. Considerando que cada microrganismo teve um tempo para ser alterado, de acordo com Wutke (2.006) e completando com dados da ANVISA, é possível aplicar a relação 1-3min/m³ considerando uma única fonte irradiadora.
A necessidade de comprovação de resultados e eficácia de uso para a área do turismo, exigiu, a busca pelo processo por amostras coletadas antes e após aplicação de radiação UVC no ambiente. A FETURISMO – PR acompanhou a coleta de amostras e seus resultados surpreendentes, com eficácia de 98,03% em uma amostra e 99,7% em outra. As coletas foram realizadas em uma pousada no litoral do estado do Paraná (Paranaguá) em 15/06/2020, antes e depois da aplicação de UVC no ambiente. O laudo comprobatório foi entregue pelo laboratório de análises na data de 17/06/2020.
Ambientes que recebem aplicação de radiação UVC para combate do número de microrganismos presentes no ar ou mesmo anteparos como portas, mobiliários, forrações, carpetes, sendo que os estudos apresentados neste trabalho começaram em 1983 e 1994 tiveram reconhecimento da Organização Mundial da Saúde, tornam-se ambientes saudáveis.
Um navio de passageiros pode vender suas UH com a segurança de poder acomodar os seus turistas com conforto, em ambientes saudáveis livres de agentes patógenos e alergênicos e seguros. Se este era um ponto impeditivo para a retomada do turismo em navios de passageiros, passou a não ser mais. Então, que venham os navios de passageiros para a nossa costa brasileira!
Susan Renée Klein é Mestre em Turismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)